sexta-feira, 22 de julho de 2016

Karina Somaggio presta depoimento á PF em São Paulo

Ex-secretária diz que suas declarações estão sob sigilo, mas acredita que pode haver novos avanços na Lava-Jato



Karina Somaggio foi intimada pouco depois do vazamento das delações de Delcídio do Amaral, em março (Foto: Erick Vizoki)


Erick Vizoki
Fernanda Karina Somaggio, uma das principais testemunhas do escândalo do ‘Mensalão’ em 2005, prestou novo depoimento à Polícia Federal na última quinta-feira (21/07), na sede da Superintendência Regional da instituição em São Paulo. Ela foi intimada no dia 31 de março deste ano após o vazamento das delações feitas pelo ex-senador e ex-líder do PT no Senado, Delcídio do Amaral, em meados daquele mês.
O depoimento, que começou às 14h, durou cerca de três horas. Segundo a ex-secretária do ex-empresário e publicitário Marcos Valério de Souza, foram feitas a ela praticamente as mesmas perguntas de onze anos atrás, quando prestou depoimento à Polícia Federal e à CPI dos Correios. Fernanda Karina disse, em off, que mesmo assim novas informações envolvendo políticos do alto escalão ligados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderão entrar definitivamente nos inquéritos que serão incluídos na investigação da Operação Lava-Jato. “Mas no final tive que assinar um documento de confidencialidade. Pediram para eu não falar com ninguém para não interferir nas apurações”, esclareceu. Apesar do sigilo, é possível que a ex-secretária tenha sido intimada para confirmar as declarações de Delcídio do Amaral, reforçar suas denúncias e levar novos indícios do envolvimento de Lula e aliados no escândalo do ‘Petrolão’, desdobramento do ‘Mensalão’ que culminou na Operação Lava-Jato.
Em entrevista ao Bloki do Vizog, publicada em 30 de junho, Karina afirmou que desde que entrou na SMP&B, “Petrobras, BNDES eram sempre citados em quase todas as negociatas”.
Karina foi secretária direta de Valério na agência de publicidade SMP&B e responsável pela assessoria integral da agenda do ex-patrão, além de principal interlocutora entre o publicitário e diversos políticos da cúpula do governo Lula e empresários. Ela ganhou fama nacional e internacional após denunciar, em entrevista histórica para a revista IstoÉ Dinheiro, em junho de 2005, os meandros e detalhes do maior escândalo de corrupção que se teve notícia até então no Brasil, o ‘Mensalão’.
Com as denúncias na imprensa e depoimento na CPI dos Correios, o País soube que Valério era o operador do esquema de pagamento e recebimento de altas somas em propina para diversos políticos ligados à cúpula do governo e de partidos da base governista. Eram eles o Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Popular Socialista (PPS), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido da República (PR), Partido Socialista Brasileiro (PSB), Partido Republicano Progressista (PRP) e Partido Progressista (PP).  O episódio levou o Ministério Público a entrar com a ação penal nº 470 no Supremo Tribunal Federal. A imprensa passou a chamar o esquema de pagamento de propinas de “valerioduto”.
Desde janeiro deste ano, Marcos Valério, condenado a 37 anos de prisão, tenta um acordo de delação premiada na Operação Lava-Jato. Mais recentemente, ele entregou ao Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MP-MG) uma proposta de colaboração para revelar novos detalhes sobre os escândalos do mensalão do PSDB e do PT.
Em entrevista ao jornal Zero Hora, em 28 de março deste ano, Karina disse que Delcídio do Amaral reafirmou tudo o que ela havia declarado há onze anos, quando depôs na CPI dos Correios. A publicação informa, ainda, que ela “surge como potencial testemunha da Lava-Jato”.