Aqueles que gostam de
assistir aos programas de auditório que ocupam praticamente todo o domingo em
diversos canais de TV tiveram que ficar sem eles no último dia 17/04. Mas não
se arrependeram. Foram centenas de abraços para esposas, maridos, filhos, netos,
amigos, colegas, falecidos, agradecimentos e pedidos de clemência a Deus
durante praticamente todo o dia, em diversos canais. E não faltaram também
gargalhadas, brincadeiras, choros, tapas e beijos. Teve até cusparada e
presenças de artistas como Sérgio Reis, Celso Russomanno e Tiririca.
Não se enganem, não é um
novo programa de calouros e gincanas divertidas. A coisa, apesar de não
parecer, foi bem séria.
Numa longa e histórica
sessão na Câmara dos Deputados, entrou em votação, por volta das 16h daquele
dia, a admissibilidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma
Rousseff. O processo, que durou quase 10 horas, foi transmitido pela TV Câmara
e retransmitido por várias emissoras, abertas e fechadas, de todo o País.
O resultado foi o
esperado pela oposição: 367 votos oposicionistas contra 137 votos governistas,
sendo sete abstenções e duas ausências. Eles declararam, em diversas e rápidas entrevistas logo após a votação, que já contavam mesmo com uma votação entre 365 e 367 votos. Mas o resultado ficou bem aquém do esperado na
contabilidade governista, o que talvez explique porque o processo de
impeachment esteja embasado justamente nas contas do governo, ruim de cálculo.
Se Lula afirmou que a
Polícia Federal não acertou a cabeça da jararaca, e sim o rabo, ao chama-lo
para depor na Lava Jato, desta vez o golpe foi certeiro na peçonhenta cabeça de
Dilma, que deve ter ficado bastante (ou mais) tonta após as 23h47 do domingo,
horário em que a sessão foi encerrada. A cacetada fatal foi dada pelo deputado
tucano de Pernambuco, Bruno Araújo, cujo voto nº 367 sentenciou Dilma a se
entender, agora, com o Senado.
Em 1931, o agente
federal norte-americano Eliot Ness colocou na cadeia o perigoso mafioso Al
Capone por crimes de sonegação de impostos, ao invés de seus crimes de tráfico
de bebidas, drogas e assassinatos. Em 2016 nossa Polícia Federal, Ministério
Público e Poder Judiciário, em eficiente e inédita ação conjunta, começam a dar
fim ao esquema criminoso de poder petista através de um simples dispositivo
legal, as tais “pedaladas fiscais”. Em resumo, o processo de impeachment em 2016
é tão golpista quanto as promessas de campanha de Dilma em 2014, como não
aumentar juros, controlar a inflação e não mexer nas garantias trabalhistas e nos
vencimentos dos aposentados e pensionistas. Ou seja, chumbo trocado não dói.
A derrota do governo foi
ainda mais vergonhosa porque o petismo acabou provando do próprio veneno, apesar
de jararaca não ser venenosa: foi traído por aqueles que tentou comprar, num
gesto agonizante para se salvar. Vários parlamentares, convidados por Dilma
para adquirirem produtos em sua biboca de quinquilharias, não ficaram
satisfeitos com os mimos oferecidos e acabaram voltando atrás, preferindo
confiar mais nas centenas de milhares de votos confiados a eles em 2014.
O que o clamor popular
exige é justamente isso: o fim de práticas ilícitas, por parte da classe
política brasileira em geral, que tem se perpetuado por décadas e livres de
punição. O argumento que “se eles fizeram, nós também podemos fazer” já não é
mais convincente e muito menos aceitável pelo povo brasileiro.
Tudo bem, é verdade que
quase metade do Congresso Nacional também não é nenhum exemplo de probidade e
que o cara que presidiu os trabalhos, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nem
deveria estar lá, e sim na cadeia. Mas esse é o jogo político, e fiel às
características da versão brasileira do clássico jogo de xadrez: nesse
tabuleiro vence a malandragem, a velhacaria e quem for mais esperto.
Só esperamos que, se derrubada a rainha, o rei
procure fazer jogadas que voltem a civilizar a partida e entreter de maneira
positiva a torcida.