sexta-feira, 11 de março de 2016

IMPRENSA

A imprensa defendida por abutres


Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, ligado à CUT do PT, sai em defesa do ex-presidente que considera a imprensa seu maior inimigo. (Foto: SJSP/Reprodução)

Erick Vizoki

Não somos Alices, mas parece que vivemos num Brasil que mais lembra o País das Maravilhas. Um mundo distópico, que beira o surreal.
Não bastasse o bombardeio de mentiras e falácias propagadas pela nossa maravilhosa classe política, agora algumas entidades defensoras da imprensa e de jornalistas embarcaram nesse jogo.
No último dia 10/03, a Globo divulgou, através do Jornal Nacional, uma carta em protesto contra os atos de violência a jornalistas e meios de comunicação. O documento está assinado pela Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), a Abratel (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), a Aner (Associação Nacional de Editores de Revistas), a ANJ (Associação Nacional de Jornais) e o escritório da Unesco no Brasil.
Um trecho que justifica o texto divulgado por essas entidades: “Nos últimos dias, uma sucessão de atos de intimidação e de agressões vem sendo praticada contra jornalistas, no exercício da profissão, e os meios de comunicação. Tais acontecimentos somam-se aos 116 casos de ameaças, intimidações, vandalismos, agressões físicas e homicídios praticados contra os profissionais da imprensa no ano de 2015, e que colocam o país no ranking de quinto local do mundo mais arriscado para o exercício da profissão”.
Tudo muito bom, tudo muito bem, não fosse por um detalhe: A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) não está entre os signatários da carta, assim como seus sindicatos filiados. Mas a matéria divulgada pela Globo citou que a Fenaj, assim como a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) , publicaram nota no mesmo dia, independentemente. Segundo a matéria do Jornal Nacional, a Fenaj “pediu ao Ministério da Justiça que garanta a integridade e o trabalho dos jornalistas com uma orientação às forças policiais para que evitem agressões”. A Fenaj ainda teria reconhecido “o direito de todos os cidadãos de protestar e criticar as instituições do país, inclusive a própria imprensa. E observa que os excessos só interessam aos inimigos da democracia”.

Contradições de quem não poderia se contradizer

Comportamento no mínimo contraditório para uma entidade filiada justamente a um dos grupos que mais agridem jornalistas, que é a CUT (Central Única dos Trabalhadores), tentáculo sindical ligado umbilicalmente ao PT. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo também é filiado à CUT e à Fenaj e declarou, abertamente, apoio ao ex-presidente Lula, o que é, pelo menos em minha opinião, um atentado contra a isenção jornalística. O apoio foi descaradamente publicado no próprio site da entidade sob o título “SJSP apoia frente ampla em defesa de Lula e contra o golpe, convocada pela CUT”.
E as contradições não param por aí. Outro trecho da matéria do Jornal Nacional: “Na última semana, jornalistas da TV Globo e da GloboNews foram agredidos e tiveram equipamentos danificados por militantes petistas. Houve protestos na porta da TV Globo no Rio de Janeiro e em Brasília, promovidos pela CUT. Um grupo jogou ovos e tomates na TV Liberal, afiliada da Globo em Belém. E uma equipe da Band, em Cascavel, no Paraná, foi sequestrada por integrantes do MST. O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), também é outro tentáculo petista, rotulado de “movimento social”. Um dia antes do sequestro no Paraná (08/03), cerca de 70 integrantes do “movimento social” invadiram a sede do Grupo Jaime Câmara, em Goiânia. O prédio abriga, entre outros veículos, a TV Anhanguera (afiliada da Rede Globo em Goiás) a rádio CBN e o jornal O Popular, segundo informa o site do jornal Correio Braziliense.
Pode até parecer que a Globo é a única vítima das facções petistas, mas os atentados contra jornalistas da Band e de diversos veículos impressos mostram o ódio e a repressão à imprensa patrocinados pelo regime lulopetista.
Ironicamente, o partido do governo publicou em seu jornal estatal online, “Brasil 247”, que apenas sete famílias brasileiras controlam 70% da imprensa no País. Só esqueceram de mencionar que entre essas famílias, pelo menos duas são aliados de primeira hora do governo. A família Sarney, no Maranhão, e a família Collor, em Alagoas.
Assim sendo, está ficando cada vez mais difícil saber no que e em quem acreditar. Definitivamente, a Fenaj, ao lado de seu filiado de São Paulo, se mostram dois dos maiores abutres a tentar controlar a imprensa ao invés de defendê-la, em flagrante favorecimento a quem seria seu maior “desafeto”, o próprio Lula!

“Mas os poços da fantasia acabam sempre por secar e o contador de histórias, cansado tentou escapar como podia: o resto amanhã... Já é amanhã”. (Lewis Carol, em “Alice no País das Maravilhas”)

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