Denise Abreu fala com exclusividade sobre
suas divergências com o PT e interferências para beneficiar “apadrinhados”
“Dentre todos os ministros, a Dilma era a que
tinha mais dificuldade em compreender as explicações técnicas”, afirma
ex-diretora da Anac
“Regula-se o mercado.
Pensamento não é mercado. A regulação do pensamento é censura”, diz Denise
Abreu sobre o Marco Civil na internet. (Foto:
Ivan Brasil)
Em
entrevista exclusiva para o iBrasil,
Denise fala sobre os bastidores que a levaram a duas CPIs, as armações do
governo Lula para beneficiar apadrinhados, particularmente Roberto Teixeira no
episódio da venda da Varig. Dentre as consequências dessas interferências,
Denise Abreu conta que um dos órgãos mais afetados foi a Aeros Fundo de
Previdência Complementar, que levou pelo menos oito aposentados a cometer
suicídio. Ela também diz que o governo petista está manobrando para queimá-la
como candidata e tentar enquadrá-la na Lei Ficha limpa.
O Bloki
do Vizog agradece ao jornalista Ivan Brasil, que realizou a entrevista, e cedeu
o material integral para publicação.
A
matéria foi publicada na edição nº 117 do jornal Imprensa Brasil, impresso no
início do mês de maio e que já está circulando em Diadema e algumas regiões do
ABC Paulista.
Ivan
Brasil - A senhora foi diretora da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) em que época? De quantos cargos
públicos a senhora já participou?
Denise Abreu - Comecei no governo
do Estado de São Paulo aos 19 anos de idade na Secretaria de Segurança Pública
como assistente. Depois trabalhei no Tribunal de Contas do Município de São
Paulo, como assessora jurídica do tribunal aos 22 anos de idade. Aos 24 prestei
concurso na Procuradoria Geral do Estado, fui aprovada e me ingressei como
Procuradora do Estado e permaneci por 17 anos. Ao longo deste período eu
chefiei basicamente todas as consultorias jurídicas nas secretarias no Estado
de São Paulo, e fui convidada pelo governador Mário Covas a ser chefe de gabinete
da Secretaria de Saúde. Esse foi o primeiro cargo político de relevância, pois
aí já é um núcleo central de poder, e após fui chefe de gabinete da Secretaria
de Assistência e Desenvolvimento Social. Com o falecimento do governador (Mário
Covas) pedi exoneração do cargo e aí voltei para a procuradoria, para
Consultoria Jurídica da Educação, ocasião em que (Gabriel) Chalita era o então
secretário da Educação. Em 2002, aos 40 anos de idade, fui acometida de um
câncer, e como não sabia como seria a evolução do mesmo, que demora cinco anos
para ter alta, entendi que eu já tinha dado ao Estado de São Paulo a minha
cota, um pouco do meu trabalho e conhecimento e realizações como a criação das
Organizações Sociais de Saúde. Conseguimos implantar nos hospitais que a
população precisava tanto, e em uma parceria público-privado, com a iniciativa
privada sem fins lucrativos, e com isso entendi que deveria ir para o governo
federal para realizar trabalhos no âmbito nacional.
Fui diretora de 20 de março
de 2006 a 24 de agosto de 2007.
Porque saiu?
Renunciei ao cargo após serem
instauradas duas CPIs, onde tive inúmeras divergências com o governo, e por
isso fui colocada nas CPIs. E aí entendi que não havia mais nenhum interesse,
nem por parte do governo e muito menos da minha parte em continuar compactuando
com os desvios que eu havia descoberto, que eram praticados pelo governo do PT quando
eu galguei um cargo de maior relevância, com status de ministro. Portanto,
passei a participar de reuniões políticas que eu nunca havia participado.
Quando e por que entrou para a vida
pública partidária?
Na verdade, a vida pública
partidária foi construída a partir da mídia. Ela me transformou numa
celebridade em uma CPI, e ao sair do governo continuei fazendo debates de política
pública e no ano passado fui convidada a ingressar no Partido Ecológico Nacional
(PEN), à época com menos de um ano e meio de existência, com propostas muito
similares a minha formação ética e moral, que é a defesa dos valores
conservadores da sociedade e, principalmente, os valores da família. Me
interessei em entrar no partido e desenvolver alguns trabalhos internos da
legenda, para que pudéssemos participar pela primeira vez em uma eleição
majoritária e proporcional com envergadura de gigante, independentemente da
imprensa nos tratar como um partido nanico.
A senhora será candidata ao cargo de presidente
da república?
Sou pré-candidata. Se eu for
aprovada na convenção do nosso partido, serei candidata a Presidente da
República pelo PEN 51.
Voltando a falar do PEN, que é um
partido muito jovem, e que não é tão nanico assim, como a senhora avalia a
expectativa política para uma legenda tão recente?
Eleitoralmente falando, é
evidente que quando um partido como o nosso, que tem só 7,3 mil filiados, portanto
0,31% do número de filiados do maior partido deste país, que é o PMDB, sem
horário de televisão como os demais partidos grandes detém, com recursos
escassos como qualquer partido pequeno também tem, traz uma certa dificuldade
para que você possa ser conhecida pelo público. O que trouxe meu interesse
maior em participar dessa pré-candidatura foi a possibilidade de divulgar o
nome do meu partido. Porque em razão de toda a exposição pública em 2007, e eu
sempre me mantendo na mídia, eu não tenho nenhuma dificuldade em ser procurada
pela mídia para dar entrevistas. Eu tenho uma visibilidade maior dentro do
partido perante os outros nossos 7,3 mil filiados, que são da mais extrema
qualificação, e não têm a visibilidade necessária para poder galgar espaços que
nós conseguiremos atingir, independentemente das limitações da legislação
eleitoral atual que beneficia os grandes partidos.
Você tem uma bagagem muito grande, não
só por tudo que sabe, mas pela experiência acumulada ao longo dos anos. Como
seria um debate com a presidente Dilma Rousseff?
Eu
trabalhei no governo Lula, eu entrei em outubro de 2003. Logo que eu cheguei,
enfrentei e fui designada para resolver um problema que foi o vazamento de
petróleo na Bacia de Campos. Foi a minha primeira experiência com Dilma
Rousseff na qualidade de Ministra de Minas e Energia, e Marina Silva na
qualidade de Ministra do Meio Ambiente. E nós, da subchefia para assuntos
jurídicos da Casa Civil, tínhamos a incumbência de encontrar a solução para a
elaboração de um plano de prevenção nos vazamentos de petróleo.
A
partir desse contato, eu pude verificar que existiam muitas fragilidades no
desempenho profissional da Dilma. Apesar de ela ter sido apresentada à nação
pelo presidente Lula como a grande “gerentona” e extremamente competente, o que
nós observávamos no dia a dia é que ela tinha uma dificuldade imensa em
compreender as explicações dos técnicos, e técnicos da melhor qualidade. Dentre
todos os ministros, a Dilma era a que tinha mais dificuldade em compreender as explicações
técnicas.
Eu
continuei ali, a trabalhar na subchefia para assuntos jurídicos, fui trabalhar
no Ministério da Saúde, fui a mentora e redatora do (programa) Farmácia Popular
Aqui Tem, em 2005. E todas essas interfaces junto à Casa Civil, e a Dilma já
era Ministra Chefe da Casa Civil, nos colocava em reuniões técnicas com a
participação da ministra. Quando eu fui para a Anac, a ministra Dilma, junto
com a Erenice Guerra, que era sua secretária executiva, e elas eram muito
ligadas e são até hoje, interferiam demais, ou tentavam interferir, nas
decisões da agência reguladora, que tem por definição legal a estrutura de um
órgão de estado, e não de governo. Uma agência reguladora se pressupõe aquela
que vai gerar a regulação do mercado para o benefício do cidadão usuário
daquele serviço. E o governo Lula, e hoje eu observo que o governo Dilma dá
continuidade, não conseguia aceitar, nem compreender, a autonomia dessas
agências reguladoras. Então eram realizadas muitas reuniões na Casa Civil para
explicações que, para nós, no dia a dia, eram questões corriqueiras e básicas,
mas que nós perdíamos oito horas tentando fazer a Dilma Rousseff e Erenice
entenderem qual era o contexto e as consequências das propostas que estavam
sendo impostas pelo governo à agência reguladora e nós tivemos, então, vários
momentos de embates ideológicos e de políticas públicas em que a Dilma observou
que a gente tinha então alguma consistência para podermos demonstrar que a
opinião da própria agência estava correta e não a do governo. Quando eu saio do
governo, nove meses depois dei uma entrevista para o (jornal) Estado de São
Paulo sobre a venda da Varig, e que houve a interferência direta da Casa Civil
através da Dilma e da Erenice Guerra para benefício dos interesses do Roberto Teixeira.
E hoje eu até compreendo, pois naquele momento ela não era nem petista e queria
agradar o presidente Lula para conseguir ser a candidata. E aí prejudicou não
uma empresa, mas a família Varig. A Varig foi totalmente estruturada numa
concepção absolutamente familiar, de elos familiares. A consequência direta
disso foi a quebra do Fundo de Previdência Aeros, que deixou na penúria
inúmeros idosos que passaram a receber como benefício previdenciário um valor
ínfimo ao ponto de ser menor do que o salário mínimo deste País, tendo
recolhido ao longo de trinta anos de carreira, muito dinheiro para um fundo que
foi surrupiado pelo governo federal e dentre essas pessoas, infelizmente oito
senhores não aguentaram as consequências psicológicas, morais, de dignidade e
se mataram. Nós temos uma situação muito delicada junto a esse núcleo de idosos,
o que não foi muito diferente também na rede ferroviária. Eu dei essa
entrevista então relatando todos os episódios da Varig e o Congresso Nacional
me convidou para que eu tirasse algumas dúvidas decorrentes da própria
entrevista. Convidaram também a Dilma Rousseff. Aí nós percebemos o quanto a
Dilma teme, e temia, um confronto, um debate com a minha participação e blindou
o Congresso Nacional por duas vezes para que não houvesse essa acareação que
teria sido extremamente importante para que pudessem tirar suas próprias
conclusões. Nós reforçamos então a nossa percepção agora num momento
pré-eleitoral, num momento de pré-campanha e que o governo federal vem se
preocupando demais com a campanha de um partido novo, de um partido pequeno
como o PEN, exclusivamente por ter como pré-candidata o meu nome ao invés de
estar tão preocupado com quem deveria ameaçá-los, porque a conclusão que eles
chegam é que um partido pequeno não os ameaça. Porém eles estão muito focados
nas nossas ideias, nos nossos programas, tentando reproduzir as nossas ideias e
os nossos programas por observarem que a franqueza é o marco do Partido
Ecológico Nacional, que não está se colocando diante da população para levar
propostas e programas de governo e pensamentos dissimulados para a sociedade.
O que
nós queremos é trazer à sociedade a verdade, a importância dos valores da
família e dos valores judaico-cristãos que são a coluna vertebral que poderá
dar a sustentação do desenvolvimento do mundo. A sociedade ocidental, onde
nasceu Cristo, se demonstra a sociedade exitosa no mundo. E nós estaremos
defendendo todos os valores da sociedade ocidental exatamente pela chegada de
Cristo nesta sociedade trazendo para nós, então, as mensagens dos valores da
célula mater de uma sociedade que é a família.
Voltando
um pouquinho à época em que você foi procuradora do Estado, na ocasião
ocorreram algumas discórdias que contrariavam alguns interesses privados de
alguns integrantes do governo Lula, como o Roberto Teixeira, que é compadre do
ex-presidente, Dilma Rousseff que na época era Ministra Chefe da Casa Civil.
Quais foram efetivamente essas rusgas que houveram? Houve algum prejuízo em sua
reputação?
Nesse
momento da Anac, que nós assumimos no dia 20 de março de 2006, dez dias depois
a gente já foi chamado no Palácio para elaborar um plano de contingência, de
distribuição de rotas da Varig, sob o argumento de que a Varig estava quebrada
e que o governo não iria injetar dinheiro nenhum na empresa. E aí fiz vários,
incluindo o Aero junto. Depois que foi elaborado o plano de contingência, nós
fomos chamados de novo, no mesmo Palácio, pela mesma Ministra Dilma Rousseff,
na mesma sala, onde ela disse: “Vocês estão elaborando um plano de contingência
à revelia do governo e nós temos prazo com isso”. O governo tinha dado essa
ordem há vinte dias. E aí, eu que sou uma pessoa muito curiosa, fui tentar
entender o que estava acontecendo e descubro que o Roberto Teixeira tinha sido contratado
como advogado da Varig e, por esse motivo, o governo tinha mudado de opinião. E
começam, então, as interferências para que todas as ações praticadas pelo
Roberto Teixeira fossem então consolidadas e corroboradas dentro da Anac. Porém
muitas delas eram ilegais e eles queriam que um fundo americano comprasse então
a Varig. Como há uma limitação de capital estrangeiro nas empresas aéreas, eu
tenho impressão que a Dilma Rousseff não conseguiu entender isso até hoje, por
mais incrível que possa parecer. Porque existe essa limitação de capital
estrangeiro? Porque dentre várias razões, em estado de guerra a frota que pode
ser convocada pela FAB (Força Aérea Brasileira) para transportar alimentação,
transportar medicamentos, transportar civis que vão fazer atendimento em
acampamentos instalados para dar socorro às vítimas daquele evento de guerra,
são as empresas aéreas nacionais. Se há uma abertura de capital estrangeiro e o
país estrangeiro passa a deter a maioria do capital, você não tem frota nacional
a convocar em estado de guerra. A argumentação que eu sempre ouvi foi: “Ora,
mas o Brasil é um país de paz”. Primeiro, não se elaboram meios, nem a
Constituição Federal, em cima da vivência momentânea da sociedade. Se no
momento anterior, porque hoje o Brasil não é um país de paz, a sociedade vive
em paz, isso não significa que você não tenha que ter uma estrutura de defesa
extremamente preparada para uma eventualidade onde esse momento de paz seja
maculado. Então por conta disso a Constituição Federal colocou como diretriz de
soberania esta limitação. O que eu fiz como diretora da Anac e responsável pela
relatoria do caso Varig: eu exigi imposto de renda das três pessoas físicas que
iriam comprar a empresa para ver se era compatível. Se eles tinham então caixa
no imposto de renda que desse suporte a portar US$ 70 milhões. Pedi também que
a outra parte, que seria o dinheiro internacional, houvesse uma comprovação de
que a entrada foi regular e legal pelo Banco Central, porque senão eu posso
estar recebendo dinheiro de lavagem, inclusive do tráfico de drogas. E nós,
Estado brasileiro, não podíamos abrir brecha para que isso acontecesse. Então
eu, dentro da estrita legalidade, fiz a exigência dessas duas comprovações.
Qual não foi a minha surpresa em que o Roberto Teixeira e seu escritório, junto
com a Casa Civil, Erenice Guerra e Dilma Rousseff, ficam enfurecidos com essa
exigência. Como eu aprendi desde pequena que quem não deve não teme, ali eu
percebi que existia algum problema. Porque se o imposto de renda tivesse sido
compatível e a entrada no Banco Central tivesse sido regular, bastava
apresentar a documentação, ninguém iria se exaltar tanto quanto eles se
exaltaram. E ali eu estabeleci, sim, um confronto com o governo em nome da
defesa da estrita legalidade. E virei vítima de um governo que passa então a
tentar assassinar a minha reputação.
O
senador Álvaro Dias (PSDB-PR), em sua página no Facebook, menciona um fato real
acerca de uma entrevista que você deu ao Lobão, e diz o seguinte: “Denise Abreu
é o verdadeiro arquivo vivo de denúncias que amedrontam o governo. É corajosa,
tem muito a dizer e pretende disputar a presidência para encontrar espaço para
suas denúncias”. Você acredita que causa preocupação ao governo federal e aos
integrantes da cúpula do PT por você saber das entranhas do partido e conhece
as minúcias da forma de governar do partido?
Disso
eu não vou nem dizer que eu acredito, vou ousar dizer que eu tenho certeza
absoluta. Agora quanto a utilizar a campanha para ser um espaço de denúncias, é
um enfoque que eu respeito, mas não é a nossa proposta. Em primeiro lugar nós
não fazemos denúncias. O brasileiro se desacostumou a escutar a verdade. E
todas as vezes que alguém traz a realidade diferente do que vem sendo veiculado
pelo marketing de um político, de um governante, que via de regra não está
relatando a verdade à população, o próprio marketing político tenta destruir a
sua fala dizendo que isso é uma denúncia. Em verdade, ninguém vai denunciar
nada, nós só queremos mostrar para o Brasil os desmandos deste governo, os
equívocos profundos nas políticas públicas implantadas, qual o objetivo desses
equívocos como esse programa Mais Médicos, que é, sem dúvida alguma, a
implantação de um totalitarismo bolivariano no Brasil, seguindo a cartilha do
Fórum de São Paulo. Então nós estamos esclarecendo a população, antes de
outubro de 2014, tenha a condição mínima para fazer a sua escolha. Mas uma
escolha em cima da verdade, não em cima da publicidade comprada. Hoje os
veículo de imprensa, por não terem subsídios da própria iniciativa privada nas
publicidades, que é o que mantém os veículos de comunicação, esses veículos
ficam reféns da verba publicitária do governo federal. Então há um aporte de
recursos de publicidade nesses veículos e aí eles passam a deter o controle da
imprensa, do que pode sair, do que não pode sair, até que ponto devem mexer
numa matéria e nós, cidadãos, meros leitores desses veículos, acabamos não
tendo a informação completa. E é por isso que a internet é extremamente
importante, porque é lá que está a liberdade da informação. Então a nossa
proposta é trazer o máximo de informação possível para que a população possa,
de forma consciente, poder optar por quem é o candidato mais afinado com seus
valores. Hoje o Brasil está incrustado de uma revolução cultural em que os
pensamentos de esquerda foram incrustados nas escolas públicas e privadas, nas
universidades públicas e privadas, e os jovens saem da universidade sem ter
consciência de que ele saiu dali marxista, mas ele só aprendeu Marx durante
quatro anos. Você não pode cobrar nada dele além do que lhe foi oferecido.
Então nós queremos retirar a ideologia de esquerda, nós queremos a informação
democrática para que o cidadão possa, ao seu livre arbítrio, qual é o caminho
que entende ser o melhor para o seu destino e para sua nação.
Denise,
o Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo pediu a sua condenação em até
24 anos de prisão em regime fechado na modalidade dolosa, e não culposa, em
virtude do acidente da Tam, voo JJ3054, que causou a morte de 199 pessoas em
julho de 2007 na Zona Sul de São Paulo. Como você avalia esse processo judicial
e como está hoje o andamento?
Na
verdade, o Ministério Público e também a imprensa esquecem que o que ele (o
MPF) pediu na petição inicial onde ele ofereceu a denúncia, não foi o que está
escrito aí. Ele pediu, o que também não é verdade, uma condenação por um crime
culposo. Porém, ao final, e eu já estando com 1% nas pesquisas do DataFolha, o
procurador Rodrigo De Grandis resolve mudar a denúncia, e isto é ilegal. Não só
ilegal, como inconstitucional, então é, portanto, nulo. Então eu nem estou
discutindo isso muito. Meu advogado tem dado algumas entrevistas para deixar
bem claro para a população que o procurador atuou de uma forma ilegal, que será
anulada. Nós temos confiança plena no Poder Judiciário, que é quem decide. O
promotor dá mera corda, o promotor pede, o promotor denuncia, mas o poder
decisório estará na mão de um rapaz concursado do Poder Judiciário, que tem se
demonstrado totalmente independente e extremamente capacitado, pelo que a gente
pode observar pela condução que ele deu no processo, e nós estamos agora em
fase de apresentar as nossas alegações finais, contestando as alegações finais
do procurador. E, veja bem, ele precisou se socorrer de um parecer de um
advogado contratado para dizer que ele está certo. Isso não existe. E advogado
este, que nós não sabíamos então estar num jogo político ou não. Agora que
apareceu o nome do advogado, que é o advogado do João Paulo Cunha (ex-presidente
da Câmara dos Deputados), dos mensaleiros do PT, ficou muito claro que o PT
passou a operar também nesse processo junto a quem está oferecendo a denúncia,
a quem está dando subsídios e suporte para uma tentativa de me enquadrar na Lei
de Ficha Limpa. Porque o crime que ele disse que eu pratiquei, e não pratiquei,
na modalidade culposa, que é a denúncia válida, não me enquadraria na Lei de
Ficha Limpa. Então, ao final de seis anos de investigação ele muda
absolutamente tudo para tentar me enquadrar na Lei de Ficha Limpa. Nós estamos
agora na fase de alegações finais e também vamos apresentar um parecer (porque
parecer por parecer, então a gente pega outro parecer), e aí vamos aguardar
serenamente a decisão do Poder Judiciário. É uma bobagem toda essa estratégia
de mídia, porque ainda que, apesar de toda ilegalidade, houvesse uma decisão
meramente política com condenação, essa condenação cabe recurso, e um recurso
no Poder Judiciário não tem levado menos de oito ou dez anos. Imagine você: eu
estaria eleita, teria terminado o meu mandato, e o processo ainda não teria
sido julgado. Portanto, nem a Lei de Ficha Limpa me atingiria. Tudo isso foi
feito mesmo para tentar impedir o meu crescimento junto à população que vem
reconhecendo o quanto nós estamos sendo transparentes e verdadeiros nas
propostas que temos apresentado nos nossos programas nas redes sociais. Temos
um programa chamado “Conexão Denise Abreu”, com entrevistas também, onde a
gente tem tido a possibilidade de ter um diálogo muito aberto com a população.
De
forma resumida, como você avalia oi governo Dilma?
Péssimo.
Talvez um dos piores governos que nós já tivemos.
E como avalia as manifestações por todo o
Brasil?
No ano
passado, as manifestações, que foram encomendadas por uma ala do PT, acabaram
resultando numa situação absolutamente inovadora para eles, e inesperada. A
população tomou as manifestações e demonstrou que seus pleitos independiam das
intenções de qualquer partido, tanto que o mote era “sem partido”. O que a
população quer é a melhoria na saúde, na educação, nos transportes, na
segurança pública... O que a população exige é que os impostos altíssimos, que
nós recolhemos, sejam revertidos em prestação de serviços públicos de
qualidade, porque isso não é um favor que o governo faz à população, é uma
obrigação e a população tem sim o direito de exigir, afinal de contas é ela que
paga, é ela que financia tudo isso.
Na sua
opinião, qual é a maior carência do brasileiro hoje?
São
tantas as carências do brasileiro... Vou emendar a tua pergunta enfocando de
outra maneira também. Eu entendo que o mais emergencial neste país é a
qualidade de prestação de serviços. E educação, evidentemente, conforme eu já
te disse. Mas saúde é prioritário, porque sem ela não adianta você querer ir
para a escola. Então o foco maior tem que ser o investimento imenso na área da
saúde, encontrando um nicho para que a gente possa aportar os recursos
necessários da Emenda 29 e trazermos à população a prestação de serviços de
saúde com dignidade, onde ela seja atendida com a dignidade necessária. Os
nossos profissionais de saúde são de primeira linha. É uma injustiça transferir
aos profissionais de saúde responsabilidade pela falta de estrutura e
infraestrutura, que essa sim era obrigação do governo. Mais uma vez, o governo,
para se esconder da sua responsabilidade, transferiu para o profissional de
saúde a responsabilidade pela má qualidade no atendimento, o que não é
verdadeiro.
Ora, o
outro aspecto que eu entendo, e aí não é o clamor da população, mas a necessidade
para que a gente possa então encontrar os recursos necessários para
investimento é o retabelecimento das relações internacionais.
Como
você avalia o “Mais Médicos”? É importante ou não é, pois nós sabemos que
faltam realmente médicos nos hospitais, nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde)
Bom, em
primeiro lugar acho que essa conta é uma conta feita de uma forma muito
irresponsável. O fato de faltarem médicos no serviço público não significa que
faltam médicos no Brasil. Agora, evidentemente, se você fez seis anos de
faculdade de medicina, você tem ideia de quanto custa um livro para poder se
informar, para poder se formar um bom médico? Não basta ter a universidade
pública. E, portanto, não paga. Você gasta e investe muito dinheiro e tempo
para se formar em medicina. Depois você tem que fazer residência médica para se
transformar num especialista, o que levará oito anos de sua vida. É quase um
sacerdote. Após tudo isso, eu lhe ofereço um salário sem a menor dignidade. É
evidente que você não atrai o profissional para o mercado público. E, portanto,
ele passa a investir exclusivamente em seu consultório. Então, há de saber,
falta médico no Brasil ou no serviço público? E se falta no serviço público, por
que falta? Vamos corrigir a falha de base, para dar a oportunidade de que os
nossos profissionais sejam então os profissionais que darão entendimento à
saúde pública neste país com dignidade para o cidadão e com dignidade para ele,
que está recebendo de forma compatível com a sua formação. Esse é um aspecto. Ainda
existe um outro aspecto. Evidentemente, em 2033, o senhor Arlindo Chinaglia, do
PT, apresentou um Projeto de Lei (PL) lançando mão de estatística da
Organização Mundial de Saúde (OMS), que dizia que você precisava de um
quantitativo “x” de médicos para um “x” de população. E que nós, aqui no
Brasil, em 2003, dizia o Chinaglia, tínhamos muito mais médicos do que o
exigido pela OMS. O que eles fizeram? Apresentaram um Projeto de Lei proibindo
as universidades e as faculdades de medicina de criarem novas vagas para
formação de novos profissionais nas faculdades de medicina.
Bom,
passados dez anos, em 2013, sem criação de novas vagas nas universidades e
faculdades, proposta pelo próprio PT, o mesmo PT vem diz: “Agora tá faltando
médicos”. Evidente. Deve estar faltando, se você proibiu durante dez anos a
formação de novos profissionais, vai acabar faltando médicos mesmo. E a gente
sabe que no serviço público o atrativo maior é para o profissional que está
recém ingressando no mercado de trabalho. Se você não criar novos profissionais
nesse mercado de trabalho, aqueles que vão amadurecendo na sua profissão,
amadurecendo na sua idade, se consolidando, portanto, economicamente, passam a
se dedicar muito mais aos consultórios médicos privados. Portanto, o planejamento
estratégico formulado pelo próprio PT foi errado. E o país não pode pagar por
isso. Tampouco os médicos.
Gostaria
da sua avaliação sobre o Marco Civil na Internet.
Conforme
a gente veio conversando, eu venho de uma agência reguladora, eu tive experiência
na área de regulação. E não só isso, eu escrevi marcos regulatórios, na época
do próprio governo Lula, onde eu trabalhei na subchefia para assuntos
jurídicos, a minha especialidade é Direito Público. O que a gente observa é o
seguinte: o que é regular? Regula-se o mercado. Pensamento não é mercado. A
regulação do pensamento é censura. Para não chamar de censura, lançaram mão de
um nome muito bonito, Marco Civil da Internet. Porém, conforme estou te
dizendo, ao regular pensamento, está se impondo uma censura ao único canal
livre que nós temos hoje em dia para veiculação de informações, de ideias, de
crescimento da população através do debate. Eu sou absolutamente contrária ao
Marco Civil e, se a população, depois que eu me consolidar candidata, em outubro,
se entender que eu mereço crédito dela, em janeiro de 2015, nós estivermos
diante da nação e podendo ouvi-la, um dos primeiros atos que eu tomarei será
mandar ao Congresso Nacional a revogação integral do Marco Civil da Internet.
Uma
última pergunta: você é a favor da Copa?
Absolutamente
contra. Meu pai é futebol. Sou filha de um juiz de futebol. Eu nasci
basicamente dentro de um campo de futebol. Eu não estou nada distante desse
universo esportivo. Fui campeã de 100 metros rasos, fui jogadora de vôlei, de
handball... Eu faço parte de uma família que valoriza demais o esporte.
Contudo, a Copa do Mundo não é um evento brasileiro. A Copa do Mundo é
internacional. O único benefício que a Copa do Mundo traz para um país, é a
entrada de recursos decorrente do turismo. E para tanto, você precisa atrair
esse turismo. E do jeito que a Copa do Mundo foi estruturada no Brasil, que é
um mero “business”, com construção de doze estádios, quando na verdade os
outros estão indo diferentemente do que a presidente Dilma Rousseff vem dizendo
aí na imprensa, os outros países majoritariamente sempre trabalharam com oito
arenas, e não doze. Então o País optou pela construção de inúmeras arenas que
não serão utilizadas após a Copa do Mundo, como a arena de Cuiabá, não tem o que
fazer com a arena de Cuiabá, onde foi gasto mais de R$ 600 milhões de reais, e
esses recursos que poderiam ter sido aportados naquilo que a população deseja,
que merece e que tem o direito de exigir, que é a melhoria na saúde e educação.
Então é evidente que não foi oportuno para o País a realização desta Copa do
Mundo no Brasil. Teria sido muito mais oportuno que todo esse dinheiro e o
dinheiro da corrupção desviado deste governo para o interesse de pessoas e de
empresas e de partidos políticos fossem utilizados na sua finalidade
constitucional, que é a melhoria da prestação de serviços públicos em todas as
áreas para o cidadão brasileiro, que é quem sustenta a nação recolhendo os
impostos.
Eu sou
contra, portanto, à decisão tomada de trazer a Copa do Mundo, um evento
internacional para o Brasil sem a menor estrutura para isso.
Considerações
finais?
Conforme
eu já expliquei as razões, não é tão fácil a gente conseguir encontrar espaço
para ter um debate tão franco, tão claro como tivemos estabelecido nestas
oportunidades.