domingo, 22 de agosto de 2010

MEDIA CRITICISM - Eleições 2010

Ele, de novo...

Revista Veja chafurda o lodo ao entrevistar ex-sindicalista

Erick Vizoki
Já virou tradição: como um cometa muito próximo, a cada quatro anos, sempre em ano eleitoral, ele ressurge com sua cara de mau para fazer suas surradas “denúncias”, ora contra um, ora contra outro. Figurinha carimbada no meio sindical desde meados dos anos 80, Wagner Cinchetto, o ilustre calhau político da revista Veja , volta às páginas da revista que o adora.
Desta vez (de novo) Cinchetto está contra o PT. E ele faz várias "denúncias", reproduzidas no Jornal Pequeno Online, contra o partido que diz ter ajudado a colocar no poder, na edição da semana passada da revista (edição 2178, 18/08/2010). E diz que tem muito mais informações do que possamos imaginar. E garante: está escrevendo um livro de 600 páginas que deverá ser publicado em breve. Falta só terminar. Ou, quem sabe, começar... Afinal, são 600 páginas, segundo ele.
O fato é que o ex-assessor sindical só aparece na mídia para expor suas ações ou participações em operações sujas, imorais, maléficas. Sempre “denunciando” seus ex-companheiros e empregadores, Cinchetto é a melhor definição e personificação do traidor. De moral torpe, credibilidade abaixo de zero e mentiroso profissional, ele faz o serviço sujo onde for, pela melhor proposta. Assim, onde quer que ele seja visto, uma coisa é certa: tem sujeira no meio.
Nas novas denúncias do paladino da moral e da ética na política, Wagner afirma ter participado de operações e articulações para desmoralizar e minar adversários de Lula na campanha de 2002 pela presidência da República. Em entrevista à Veja ele diz, entre outras coisas, que um grupo de “inteligência” foi montado pelo PT, com o aval do então candidato Lula, para criar dossiês e fazer denúncias fajutas aos outros candidatos.

Maledicência

O detalhe é que suas denúncias não têm credibilidade, porque ele é um sujeito sem credibilidade. Wagner Cinchetto é o tipo de pessoa que ama os holofotes, gosta de sair na foto, de estar na mídia autointitulado-se um “destruidor de imagens” ou o “rei da difamação”, e acha o máximo. E para isso, vale qualquer coisa. Principalmente mentir. Muito. O ex-sindicalista não se constrange em dizer isso a tudo mundo, como se fosse uma qualidade louvável. Ele concedeu entrevista à revista Época (29/05/2006), vangloriando-se de ser um difamador e um profissional da produção de dossiês, um perito da maledicência.
E a Veja, como ele, parece não estar mais dando muita bola para a própria credibilidade. O desserviço que a revista presta aos leitores e à sociedade usando como fonte um indivíduo que passou a maior parte da vida inventando fatos para se promover e para prejudicar quem quer que cruzasse seu caminho, é descer demais o nível. Que a publicação assume posição antilulista e antipetista, todo mundo já sabe. Mas a Veja mancha sua história gravemente quando tenta transformar um caráter anômalo como Cinchetto em um informante confiável para atacar seus alvos ou desafetos.
Cinchetto virou a Lurian da Veja.
Não é possível conceber a ideia de que os jornalistas da Abril não deram nem uma olhadinha no Google para se informar sobre ele e suas declarações. Não é possível que a Veja esteja abrindo mão do bom jornalismo e da imparcialidade em detrimento de sua antiga respeitabilidade e reputação. E não é a primeira vez que o alcaguete dá o desprazer de sua cara nas páginas da revista, sempre com suas “denúncias bombásticas”, e quase sempre em entrevistas ao mesmo jornalista, Policarpo Junior, desde 2001.

Perna curta

Artigo publicado pelo jornalista Leandro Fortes na Carta Capital (17/08/2010) comprova uma das muitas mentiras que Wagner diz para ficar em evidência na mídia e, possivelmente, tentar prejudicar todos aqueles para quem já prestou seus condenáveis serviços.
Fortes contesta a informação de Cinchetto sobre a participação do PT no caso da construtora Lunus, empresa de propriedade de Roseana Sarney, onde foram encontrados 1,3 milhão de reais em plena campanha eleitoral de 2002 para a presidência da República. E se vale de um bom argumento: era repórter do Jornal do Brasil, em Brasília, e foi destacado para descobrir os bastidores da ação policial que, segundo ele, “inusitadamente, havia sido comemorada tanto pelo Palácio do Planalto como pela oposição petista”. Ou seja, é uma testemunha ocular, presente, confiável. “O depoimento do tal sindicalista Wagner Cinchetto à revista Veja, como parte da série ‘grandes entrevistas de dedos-duros do mundo sindical’, tem a pretensão de transformar fatos concretos e apurados numa versão aloprada baseada, unicamente, nos valores invertidos do mundo bizarro em que se transformou boa parte da imprensa brasileira. Trata-se de caso explícito de abandono completo da regras básicas do jornalismo, mesmo a mais primária, a de pesquisar, com um google que seja, aquilo que já foi escrito a respeito”, diz o jornalista da Carta Capital em seu texto.

Mente doentia

Outro exemplo das artimanhas do ex-sindicalista nos é apresentado pelo jornalista Jeferson de Andrade, em artigo publicado no Observatório da Imprensa (17/05/2005). O texto, intitulado “Em minha defesa”, conta as presepadas de Cinchetto em Paraguaçu, cidade no Sul de Minas onde morou por algum tempo, depois de ter saído de fininha de São Paulo e se esconder em Machado, também no Sul de Minas. Naquele município fundou um jornal para tentar extorquir o prefeito da época, José Miguel de Oliveira, e aniquilar o mais tradicional jornal da cidade, a Folha Machadense, através de ataques pessoais e desmoralizantes, com o objetivo de impor sua presença na região, entre 1998/2000. O máximo que conseguiu foi dar calotes e mais calotes em um monte de gente.
Em Paraguaçu, Cinchetto exercitou novamente seu talento de traidor ao trabalhar para Cláudio Alvarenga, ex-prefeito da cidade, e para Nancy Alvarenga, ex-primeira-dama e, na época, prefeita do município. Depois de algumas polêmicas, tentou chantagear os dois, dizendo que denunciaria irregularidades na administração. Irregularidades, aliás, que contaram com a participação ativa do considerado “parceiro”. Jeferson e outros jornalistas do jornal O Cidadão estavam sendo processados por denunciarem a ligação de Cinchetto com a prefeitura de Paraguaçu em operações ilícitas. Ele conta: “O ex-sindicalista, ex-assessor sindicalista Wagner Cinchetto por suas ramificações com a cidade de Machado, vizinha de Paraguaçu, consegue se apresentar à prefeita Nancy Alvarenga para prestação de serviço. Ao seu feitio marginal, produz o panfleto apócrifo difamando políticos contrários à dupla Cláudio Alvarenga e Nancy (...). Com detalhes, o jornal O Cidadão faz divulgação da trama da administração Nancy Alvarenga, ex-prefeita de Paraguaçu. De tudo, resulta uma investigação pela promotoria da cidade. E é exatamente para conhecer o andamento dessa investigação criminal que Rafles Morais se contrapõe ao promotor Eric de Oliveira. Este, ao invés de investigar a figura de Cinchetto, exige do jornal O Cidadão documentações que autorizem o seu funcionamento”.
E é assim o caráter do Sr. Wagner. Mas ele não se contenta em prejudicar apenas políticos corruptos e outros da sua espécie. Jeferson de Andrade nos conta um episódio assustador, que mostra bem como funciona a mente doentia do sujeito: “Cinchetto, após tantas lambanças em São Paulo, envolvido num gigantesco processo por ter denunciado Luiz Antônio de Medeiros, hoje deputado federal, de desvio de dinheiro da Força Sindical, praticamente fugiu para a cidade de Machado (MG), terra natal da esposa. E virou fazendeiro. (...) Aconteceu de seu melhor touro aparecer doente. Chamou o veterinário que diagnosticou tuberculose. O touro teria de ser abatido imediatamente para evitar a propagação da doença não só entre os animais, como também oferecia perigo aos seres humanos que com ele lidassem. Passado certo tempo, o veterinário se encontrou novamente com Wagner e indagou: já sacrificou o touro? Resposta: Ah, que nada, era um desperdício sacrificar. Doei o touro para a festa de São Benedito e com ele o Padre fez o churrasco tradicional para os fiéis. (São Benedito é o santo padroeiro da cidade de Machado)”.

Uma vida de trairagens

Cinchetto é oriundo do lodo político. Entrou para o MR-8, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro, pelas mãos de outro criminoso bem conhecido no meio sindical, Marcos Cará. Os dois se tornaram amigos íntimos e parceiros inseparáveis. Cará era uma espécie de mentor intelectual de Cinchetto. Começaram a montar uma pequena organização para assessorar sindicatos. Cará já trabalhava no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, então presidido por Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão, e que era filiado à CGT – Central Geral dos Trabalhadores.
Os dois, Cará e Cinchetto, começaram a articular a eleição de Luiz Antônio de Medeiros para a presidência da entidade e, assim que foi eleito, trataram de propor algo mais ousado, a criação de uma nova central sindical, apadrinhada por ninguém menos que o então Presidente da República Fernando Collor de Melo: a Força Sindical. A dupla de malfeitores trabalhou para Collor em 1989, na campanha eleitoral contra Lula. Como todo mundo se lembra, foi uma das campanhas mais baixas e perversas já registradas e levadas a público neste país.
Com a Força Sindical a todo vapor, chegara a hora da traição a Medeiros. Cinchetto e Cará passaram a pressionar o presidente da Força Sindical a lhes dar mais e mais dinheiro em troca de seu silêncio. Como houve resistência, passaram para as famosas “denúncias”, sempre com Cinchetto se esbaldando nas capas dos principais jornais e revistas.


Vai entender...

Curiosamente, o ex-assessor fez o maior escândalo, em 1995, ao acusar Medeiros de lhe dever cerca de R$ 300 mil e que queria porque queria esse dinheiro... Mas em 2002 voltou à imprensa, já trabalhando para o PT (segundo ele), para dizer que a Força Sindical lhe oferecera R$ 3 milhões pelo seu silêncio e ele recusou. Outra mentira ou desequilíbrio mental mesmo? Pediu desesperadamente R$ 300 mil e quando lhe oferecem 3 milhões, recusou??? Em 2003, após Lula vencer as eleições, chega a hora de trair os companheiros do PT. Novas tentativas de persuasão e novas denúncias...
Até hoje Cinchetto caminha na obscuridade, em seu ambiente predileto: o esgoto sindical. Alguns sindicatos ainda sentem pena dele, um indivíduo totalmente incapacitado para arrumar um trabalho sério e doam, vez ou outra, uma cesta básica ou algum dinheiro para ele sobreviver. Mas assim que aparece um sindicalista ou político mais ingênuo, despreparado ou desesperado, o “rei da difamação” entra em ação novamente. Ele não pode evitar, faz parte de sua ignóbil natureza. E ele não vai mudar.

Recordar é viver

Em 2008, Cinchetto já não mantinha mais contato constante com Marcos Cará. Se foi ironia do destino ou mais uma de suas participações em outra manobra contra ex-parceiros, não é possível dizer. Mas seu ex-guru, ex-companheiro do MR-8, seu mentor intelectual e melhor amigo Marcos Cará foi vergonhosamente e pateticamente apanhado em flagrante, com sua esposa, a advogada Katia Gomide, na sede do Sindicato dos Motoristas de Campinas, tentando extorquir R$ 600 mil da empresa Master Saúde, que trabalhava com planos de saúde (clique AQUI para assistir ao vídeo). A voz de prisão foi exibida em todos os telejornais, em rede nacional. Eles exigiam o valor em troca de manipularem a categoria profissional em assembleia para votar a favor do convênio entre a Associação das Empresas Permissionárias de Ônibus (Transurc) e a empresa de saúde. Caso contrário, deflagariam uma greve no transporte, prejudicando cerca de 1,5 milhão de pessoas. Quando o casal finalmente pensou que o golpe tinha funcionado, a polícia e a imprensa invadiram a sala onde estavam também o tesoureiro da entidade, Gabriel Francisco Souza, R$ 100 mil, que seriam a primeira parte do acordo, e uma maleta vazia. A advogada Katia Gomide teve duas emoções fortes naquele dia: a primeira ao ver a maleta com os R$ 100 mil (“Tem que tirar uma foto”...) e outra com a voz de prisão (“O senhor vai me algemar, o que é que eu fiz?”).
Esta é uma amostra da escolinha frequentada por Wagner Cinchetto, onde ele se formou. No entanto ele continua livre, leve e solto, teve mais sorte que seu professor. Talvez seja porque publicações como a Veja dão notoriedade e até uma certa blindagem para personagens como esse. O homem vive confessando crimes e mais crimes, publicamente, em nível nacional. Mas, sob a nobre aura da “denúncia”, só os outros são questionados. Ele não. Ou talvez ele mesmo acredite tanto no que diz, que acaba convencendo todo mundo, inclusive a Justiça. Em outra entrevista à Veja (não bastou aquela), em 19/08/2010, ele se defende disparando para todos os lados: “Não sou bandido nessa história. Pelo amor de Deus. Bandidos são eles. Eles querem me sufocar, pegar o Wagner para Cristo. São eles que se envolvem em corrupção, são eles que produzem seus próprios dossiês”.

Em tempo – Apesar de tudo, o casal Cará/Gomide foi inocentado este ano pelo juiz da Terceira Vara Criminal de Campinas (primeira instância), conforme informação de O Globo e reproduzido pelo jornal O Imparcial Online. Como vemos, o aplicado Cinchetto não tem muito com que se preocupar. Portanto, se ele agora estiver trabalhando para algum lado nestas eleições (como parece ter ficado claro, graças à Veja), um deles poderá ser a próxima vítima de suas trairagens. E Policarpo Junior e a Veja estarão lá para registrar novamente, prestigiando o Sr. Cinchetto.

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